quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mineiridade



Sempre imaginamos mineiros com um fogão de lenha aceso e uma mesa simples ou até sofisticada de café com biscoitos, broas de fubá, pão de queijo; nossos pensamentos, quando se trata de descrever mineiros, quase sempre viajam à mineirice de seus "uais". Sequer aprofundamos na origem deste UAI que, na verdade, teve início na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, quando os ingleses a arrendaram por um período de cem anos e ali faziam sempre a pergunta em inglês: WHY? É que WHY, como todos sabem, significa a pergunta POR QUE, mas que os mineiros entendiam UAI e começaram a usá-la aleatoriamente, a seu bel-prazer. E, então, ao contrário do que os não mineiros imaginam, falar UAI é chiquérrimo. É um galicismo (palavra importada do inglês)!!!

Aquelas fazendas de casas coloniais, aqueles casarões com mesas bem compridas, com fogo aceso em lareira, aquele cafezinho aromático, tudo isso eu diria que faz parte mesmo da mineirice que todos conhecemos.

Mas, agora é que mora o X da questão. A mineiridade não aflora em qualquer mineiro, não. Ela é o resultado de toda uma trajetória de quem curtiu com sabedoria todos os estágios de sua mineirice. E, quando ela chega, sai debaixo! Não tem para ninguém! O mineiro em estágio de mineiridade é algo que não se define. Ele tem a simplicidade do matuto, mas a sabedoria de um mestre. Ele é comedido, moderado, não tem pressa, mas chega aonde precisa; tem cautela; escuta mais do que fala e só fala quando já tirou as conclusões em sua mente; escreve como ninguém; faz poesia, tanto em prosa quanto em verso; sabe guardar seu dinheiro e banco nenhum, até hoje, conseguiu reunir em cartilha o alfabeto de sua poupança. É arredio a cartões de crédito, gosta de experimentar o computador, mas prefere suas anotações de pé de página. Seus diálogos com os filhos tem sabedoria e suas famílias são bem entrosadas. Sabe se dar ao prazer de uma boa mesa, através da culinária, mas entende a fundo de sua indústria de queijos.

A mineirice, quando evolui, vira um modus-vivendi (maneira de viver) capaz de filtrar as essências, separar o bem do mal, aprimorar, divertir sem arreganhar, comer sem fartar, trabalhar para colher seu pão e os próprios frutos, amar sem se promiscuir. Se o mineiro em mineiridade conseguir ganhar dinheiro, ele tem os pés no chão, não vai à lua achando que é queijo da fazenda; consegue viver com parcimônia e separar o necessário, para jogar o supérfluo na poupança; não se interessa no prazer do momento, mas em prolongar seus momentos de prazer vida afora; não troca seus amigos por conhecidos e não escuta mais os vendedores de bondes que o seduziam em sua extinta mineirice.

Vale a pena se enveredar pela alma em MINEIRIDADE. Pena que poucos são os mineiros que a atingem e os que chegaram a essa felicidade têm, de fato, um prazer enorme de cultuar tudo o que é bom, a essência de cada detalhe. Mas como explicar isso aí para quem não é mineiro ou para os mineiros que não atingiram este invejável dom da MINEIRIDADE?

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